Dr. João Batista Segundo fala sobre a dor.
16 julA dor aguda e crônica é uma experiência desagradável que leva os pacientes em geral
e em especial os pacientes oncológicos ao rompimento da qualidade de vida, da
funcionalidade, do sono e na maioria dos casos acarretando depressão ou ansiedade.
Sabe-se que a dor oncológica afetou cerca de 17 milhões de pessoas no mundo nos
últimos 30 anos, a grande maioria sem tratamento ou controle adequado do seu quadro
doloroso. Logo, faz-se necessário um atendimento especializado ao paciente com câncer tendo
em vista que 30-40% desses pacientes em tratamento ativo têm dor oncológica e cerca de 80-
90% dos mesmos têm dor intensa na doença avançada.
Diante desse quadro, na condição de profissionais da saúde, devemos sempre avaliar
detalhadamente os pacientes com câncer com o objetivo de quantificar a dor e classificá-la.
Assim, a dor oncológica pode ser multifatorial: relacionada ao tumor, ao tratamento ou à
presença de morbidades associadas. Ainda podemos dividi-las em dor nociceptiva somática ou
visceral, dor neuropática ou dor mista, destacando-se que a maioria dos pacientes, com o
avançar da doença, apresentam dores mistas – o que implica tratamento específico para cada
tipo de dor.
Com relação ao primeiro fator, os tumores que mais freqüentemente apresentam dor
são os tumores ósseos ou metástases para ossos (comuns nos casos de câncer de mama,
pulmão e próstata), as neoplasias de pâncreas e os tumores de cabeça e pescoço com invasão
de estruturas nervosas. Nesses quadros, na maioria das vezes, há necessidade de tratamento
intensivo da dor com medicamentos e bloqueios anestésicos.
De todo modo, existem sinais de alarme na investigação de uma dor crônica. Por
exemplo, no caso de uma dor lombar quando o paciente apresenta, além dela:
emagrecimento, febre, déficits neurológicos, perda da função urinária ou fecal, dor constante
no repouso e em progressão, é preciso investigar esse paciente com exames de imagem e
muitas vezes descartar lesões como tumores, hérnia de disco, infecções ou fraturas.
Após avaliação do médico especialista em dor, e elucidada uma síndrome dolorosa
para o paciente, pode-se lançar mão de investigações complementares como exames
laboratoriais, neurofisiológicos ou de imagem. Esses exames auxiliam o médico na investigação
da causa da dor e na sua classificação. Por exemplo, o paciente com câncer pode evoluir com
uma dor aguda lombar e, na investigação por imagem, ser detectado uma fratura patológica
de coluna – o que demonstra que o melhor caminho é buscar cobrir o máximo de
possibilidades.
Em todo caso, estabelecido um diagnóstico, o tratamento é bastante amplo e se baseia
em terapia medicamentosa, tratando a dor em si, a insônia e a depressão; terapias com
procedimentos minimamente invasivos, como os bloqueios anestésicos ou neurolíticos; e
neurocirurgias funcionais para vias nociceptivas. Além disso, nunca é demais frisar, é
fundamental o acompanhamento interdisciplinar com psicólogos, médicos fisiatras,
acupunturistas, oncologistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e enfermeiros.
Na terapia medicamentosa, as drogas de uso consagrado são os opióides, sendo a
morfina o seu protótipo. Porém, se a dor principal do paciente é uma dor neuropática, o
tratamento específico muda e são utilizados medicamentos antidepressivos, antiepiléticos, ou
ainda anestésicos locais em adesivos a fim de tratar os sintomas neuropáticos – que são dores
em choque ou queimação em geral. No caso de uma dor miofascial, a conduta principal é
reabilitar o paciente quanto à desordem que causou a disfunção muscular, usando relaxantes
musculares e agulhamentos dos pontos-gatilho ativos.
Seja como for a abordagem da dor oncológica, devemos sempre almejar a melhora na
qualidade de vida do paciente, enxergando-se a dor não como uma palavra ou um sintoma
isolado, e sim como uma síndrome, ou seja, uma conjugação de sinais e sintomas a ser
decifrada, sendo de suma importância ter-se em mente, durante a investida, o conceito de dor
total, em que o indivíduo como um todo, com seus caracteres fisiológicos, sociais, emocionais
e até espirituais, é o centro do problema e a chave para a reabilitação.
João Batista Alves Segundo